domingo, 24 de dezembro de 2006

Campos de Carvalho

OS SINOS DE IS

Meu coração é como o frio espectro de Is,
a submersa:
cobrem-no turvas águas silenciosas
e a fluida fauna dos pecados e das penas
que eu vivi outrora, quando vivo.

Tudo é profundo, inerte, escuro,
neste meu grande mundo extinto,
e é em vão que ainda perpassam sobre os seus escombros
sombras de sonhos, lívidas, incertas,
como peixes sonâmbulos.

De quando em vez, porém,
sinto nascer de mim, como de um estranho abismo,
cantos plangentes, mil vozes em coro,
que me surpreendem e animam como deuses
ou me apavoram.

Não sei como explicar - ninguém o sabe -
esses cantos funéreos ou divinos
que assim despertam e vibram no meu peito,
em meio à grande e densa noite de minha alma,
como sinos submersos...

in: RevistaAgulha

Um comentário:

Simone Lima disse...

essa poesia tem outro título (para mim): os sinos de si...há realmente algo de assombroso que me anima ou me apavora cotidianamente...