sábado, 2 de setembro de 2006

Uma poesia + uma resenha

Ted Hughes

Dos árboles en Top Whitens

"Expuestos a la luz infinita, pastores del viento hacen sonar las cañas de la desolación,
arrancados de la fragua brotaron y crecieron después de cualquier modo, fue Dios y lo sabían.
Los montes ahora los sustentan de visiones entre un vacío y otro más brillante, con música y silencio. Inquieta la gente alza sus cabezas de oveja, después siguen comiendo. "

Ted Hughes (Inglaterra, 1930-1999)
Poeta e escritor. Seus poemas as vezes expresam emoções violentas.

Sua poesía é física, de um tom quase feroz.
Escreveu também obras de teatro, poemas e contos para crianças.
Hughes foi casado com a poeta americana Sylvia Plath.

---------------------------------------------------
DOGVILLE

Uma fábula da condição humana

Um prólogo e nove capítulos contam uma história ambientada numa pequena cidade americana nos anos trinta. Dogville, que parece não ser lugar algum, mas um modelo atemporal de sociedade, como outra qualquer: submetida às regras dos homens. Seus habitantes, velhos conhecidos, vizinhos, cidadãos honrados, nos desvendam os códigos e os sentidos do existir. Uma ficção que nos provoca saber da condição humana – esta a essência do enredo de Dogville, oitavo filme do dinamarquês Lars Von Trier.
A cidade, desenhada esquematicamente num chão preto, ocupa o espaço de um palco retangular, como no teatro. Marcas de giz delimitam ruas e jardins da vila que está situada próximo de rochosas montanhas. Não há portas nem janelas em Dogville, mas seus moradores se movem como se elas existissem e escutamos o abrir-fechar de trincos e o ranger de dobradiças. O fundo é branco para o dia. Quando é noite, preto. Esta a demarcação espacial de Dogville, dos passos e das profusas atitudes de seus moradores - o espírito que exala aquela cidade. É precisamente o mínimo espaço que possibilita ver integrado em um único e diverso lugar todas as temporalidades, todos os personagens, todos os acontecimentos, numa rigorosa concentração dramática.
Na pacata cidade surge do nada Grace (Nicole Kidman), uma jovem, de fina estampa, que foge de gângsteres. Não sabemos o que foi sua vida, relações ou lugares, antes de Dogville. Acolhida por Tom (Paul Bettany), que a convence permanecer na cidade, caso conquiste seus moradores. Grace se entranha naquela fechada comunidade e em troca da grandeza d'alma de seus moradores, executará ali pequenos serviços. Grace é procurada. Quando se intensifica o cerco à fugitiva, os habitantes se conscientizam do perigo que é oferecer abrigo à jovem, tornando-se assim, avarentos, cobrando um preço mais alto pela proteção à valiosa forasteira. Punida, aprisionada, Grace será escrava das mulheres e puta dos homens de Dogville. Ao tentar escapar será delatada pelo único morador que parecia manter algum traço de força moral, quem primeiramente lhe aceitou.
Dogville, uma grande obra do cinema novo europeu, nos deixa sua marca, quase como uma cicatriz. De seu estranhamento inicial, da intensidade do texto, segue a narrativa gerando no espectador um mergulho sobre (des) confiança, semelhanças e diferenças, valores, opressão, poder, violência e escolhas.
Para além da crítica a estética do cinema de efeitos especiais, de linguagem de clipes ou dos doces dramas protagnizados por estrelas americanas, ou da inovação dos diálogos entre o cinema, a literatura e o teatro, a fascinação de Dogville, ou a invenção de Lars Von Trier, está no desígnio de nos sensibilizar para as ambigüidades da vida expressa na ética da ação, traçada numa daquelas geniais formas de se contar uma fábula. Do trágico espetáculo, de contorno humanamente possível, a trama consegue atingir o infinito da alma.
Lars Von Trier mostra - e os diálogos frios de seus personagens atestam - a forma implacável com que a sociedade gera a exploração e a opressão do homem pelo homem, que desencadeia, ao mesmo tempo, um circuito de dominação e de violência.Comprovamos, assim, que a capacidade de construir e devastar é suscitado num mesmo universo onde o amor, como ódio, contamina-se das situações em que o faz germinar, da vontade inequívoca de quem o experimenta.
Há algo de espantoso nesta fábula. Seus personagens, como num genuíno “estado de natureza”, movimentam-se na complexa teia destas significações morais: o que era doce e terno é corrompido pelas mais banais ou essenciais necessidades do ser – em Dogville, presentes no sentido da candura ou brutalidade vivificada em Grace; ou nas pequenas crueldades de uma criança; ou nas bárbaras exigências de seus pacatos moradores; ou mesmo em nós, na provocação que nos alimenta o desejo de ver a face cruel da vingança.
Ao final, fotografias de pobres americanos ao som de americans yongs na voz de David Bowie embalam o espectador que é arrancado de sua condição, e já se encontra na impossibilidade de sair dali incólume, sem pensar sobre o que engrandece e o que torna miserável a própria existência.

"Dogville" Dinamarca / Suíça / Reino Unido / EUA / França / Noruega / Alemanha/ Finlândia / Itália / Japão, 2003. 178 mins. Direção: Lars Von Trier. Com Nicole Kidman, Paul Bettany, John Hurt, Jean Marc-Barr, Chloe Sevigny, Lauren Bacall, Phillip Baker Hall, James Caan. Site oficial: www.dogville.dk/

by Simone Oliveira Lima.





Um comentário:

Simone Lima disse...

Alexandre,

qual o endereço do teu blog,
certamente passarei por lá...