sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Deus do vento

Uma sala de aula, às vezes soam provocações, Davi X Golias; ou relatos cotidianos sucumbem à intelecção; ou o tédio arremata a criação; ou ilações não são percebidas e quando são, melhor não traduzir. às 7:30, de uma sexta-feira, quais as chances de se fazer inteligível, de se perceber num olhar uma escuta sensível, diante uma manifesta apatia geral, causada pela ressaca ou noite mal-dormida do ontem? "suporte, oh baby, suporte", o esforço da suprema abstração é nulidade. o grau zero do conhecimento também se observa numa noite de quinta-feira, quando as vontades soluçam, e o limite entre o não querer saber e o querer fazer algo cede a uma palavra, uma somente, mínima. ou a um ato. basta olhar a porta que divide o mundo suspendido na sala de aula do corredor – para além de um lugar de trânsito, é aonde a vida começa a pulsar. simples assim, assim mesmo, basta abrir a porta, a “fenda para o mundo”. numa quinta, com esse estado de ânimo demolidor, como falar das categorias analíticas de Durkheim? como vencer o ar abatido de um aluno, que de moto táxi atravessou a cidade, da Maraponga à Praia do Futuro, a mente ocupada com as vírgulas e pontos, os desafios da língua pátria, que o faria vencedor na prova do horário AB, rabiscada, no mesmo ritmo da moto que o zipou até ali ? maior esforço a seguir teria ele que enfrentar, aula de sociologia. nem diversão, nem arte garantidas, ainda as teses do século XIX. o cara que venceu o século XX e chegou ali quase morto, numa yamaha, imaginava o que seria um kamikaze, no exemplo citado sobre os tipos de suicido. um ninja, uma mitshubichi, um samurai, vá lá, dá pra entender, mas quais os movimentos, cores, as roupas desse desconhecido herói japonês? ele mesmo, o garoto de olhos vermelhos, seria esse deus do vento, afinal, os kilômetros percorridos em velocidade máxima, valeria essa conversa bizarra em pleno novo milênio? não seria esse um ataque suicida?

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

O mar


mar

presença ondulada do infinito retorno incessante

da paixão frigidíssima violenta indolência

sempre longínqua sempre ausente

catedral profunda que desmoronando-se permanece!


(António Ramos Rosa, Lisboa, 1990)

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

A barra e a praia

domingo na praia do futuro velha - e o mar ali, grandioso, norte, calmaria... preciso tomar uma atitude. quero dizer, entrar na água. revejo o filme dos dias recém passados enquanto contemplo a paisagem e as pessoas que me atravessam. saboroso hábito. vejo chegar um grupo de romeiros, de certo vêem de Canindé. na sua maioria mulheres, vestidas de marrom, ocupam uma mesa numa barraca, dez metros de onde estava. três delas dirigem-se ao mar. uma senhora de sutiã bege e bermuda nos joelhos. outra, mais velha de vestido marrom. e a terceira, mais nova, de biquíni azul. as três seguem, de braços dados em direção ao mar. penso no cinema de sexta-feira. aquele não é definitivamente o filme sobre Wittgenstein. e o sabadão que passei na Barra, o que foi aquilo, mon Dieu? uma aventura, sim. passei seis horas, entre camarins e o palco, seguindo as gravações do programa de televisão. lembro do dândiDaniel Peixoto, esquentando a platéia com sua funk/eletro/punk/trash incendiária “Vai Daiane, vai Daniele!!!”. fiquei curiosa com o hip hop caliente do Costa a Costa... vi o público delirar com a entrada de uma banda de forró e um trecho daquela letra cantarolada pela multidão não sai da memória: “eu faço tudo por você/ponho um anúncio na tv/mostro meu coracão pra todo mundo ver”. os bailarinos, de coreografia indescritível, jogando calcinhas pretas à platéia ensandecida. essa imagem se apaga quando vejo as três mulheres subindo do mar, molhadas e sujas de areia. lindas, elas, à vontade naquele espaço que não lhes pertence. aonde transitam sem distinção, e fazem suas devoções. leio o sinal e afundo ...

domingo, 22 de outubro de 2006

Cultura e mercado



As transformações experimentadas desde o final do século XX, em nossas sociedades, tornam-se um desafio para gestores culturais pois, à elaboração de políticas públicas mais incisivas nesse campo, deve-se observar, por um lado, a presença e a permanência de valores culturais locais, o diálogo entre culturas, as distinções do que se produz, circula e consome nas relações cotidianas por indivíduos e grupos e, por outro, a cultura como fenômeno de mercado, que move empresas e grupos multimídias, que fazem circular conteúdos, disseminando padrões culturais globalizantes (as indústrias culturais) .
Os movimentos de integração regional e as reivindicações de expressão das diversas culturas explicam, em parte, o novo interesse pela cultura, soma-se a isso, o fato que as indústrias culturais modificam, assustadoramente, os modos tradicionais de criação e difusão da cultura e provocam importantes mudanças nas práticas culturais. A indústria cultural, informa a Organização das Nações Unidas (ONU), é responsável, hoje, por cerca de 9% das riquezas produzidas no mundo (o produto Interno Bruto, ou PIB). Impulsionada pelo conjunto de empresas e instituições com atividade econômica voltadas à produção de conteúdos culturais, cujos fins de seus suportes, difundidos por meios como a televisão, o rádio, o cinema, o vídeo, a internet, fogem à lógica da simples compra e venda de mercadorias. De maneira vertiginosa as novas tecnologias, baseada na rede mundial, reduzem custos comerciais e revolucionam a natureza dos bens e serviços que utilizamos e consumimos.
O comércio de bens culturais cresceu cinco vezes entre 1980-1998 e se caracteriza por novos padrões de produção e consumo, com forte tendência global das mercados culturais. Analisando 120 economias, a Unesco (2005) constatou que apenas três países, o Reino Unido, os Estados Unidos e a China, produzem 40% dos bens culturais negociados no planeta. As vendas da América Latina e da África, somadas, não chegam a 4%. Nesse quadro, é bom ressaltar que a globalização representa um enfrentamento a diversidade, pois tendem a uniformização e empobrecimento da oferta cultural. (...) “Nesse sentido, a cultura é, ao mesmo tempo um instrumento de paz e conciliação, como tambem um poderoso fator de desenvolvimento, que pode inclusive traçar o caminho para um futuro planetário compartilhado”.
Se por um lado o consumo cultural se expande por todo o mundo e sua produção tende a se concentrar nas mãos de grupos, por outro, países, estados, cidades de todo o planeta, assumem o desafio de implementar políticas que detenham a “máquina de produzir desejos”, o poder de distribuição dos grupos dominantes no mercado do “entretenimento”, criando alternativas de fomento às produções locais, através de iniciativas econômicas, tecnológicas e culturais.
A comunidade européia adota desde 1980, quando identifica o atraso de seus países em relação aos Estados Unidos, políticas de criação de um mercado comum de radiodifusão; resoluções relativas ao desenvolvimento de uma indústria de programas de TV; combate a pirataria audiovisual definindo os modos de difusão de obras cinematográficas por parte dos meios de comunicação; em 1985, anuncia ações destinadas a abrir o mercado do audiovisual à concorrência, promovendo o cinema e a televisão européia, tornando-a mais competitiva. Na França, por exemplo, 40% das músicas executadas no rádio têm de ser em idioma francês. O governo subsidia a produção de filmes nacionais para a televisão e desde 1983 o Instituto para o Financiamento do Cinema e das Indústrias Culturais oferece garantias de 50% a 70% do valor dos empréstimos concedidos pelos bancos aos empreendimentos do setor. O volume de vendas saltou de 1,5 milhão de CDs em 1992 para mais de 39 milhões em 2000.
O Canadá, que possui um programa nacional de educação para a mídia, em 1980 criou a lei que permite a liberação de verbas para programas de formação, de abertura de empresas e de criação de empregos no setor audiovisual. Em 1993, treze anos depois, a partir de estudo sobre os seus resultados, constatou-se que cada dólar aplicado em atividades relacionadas à cultura gera 3,2 dólares na atividade econômica como um todo. Hoje, o Conselho da Cidade de Toronto informa que somente no município existem 190 mil pessoas (14% da força de trabalho) atuando na área cultural em empresas que faturam cerca de 9 bilhões de dólares por ano.
Na Argentina, 10% do faturamento dos cinemas, 10% das locadoras de vídeos e impostos pagos pela publicidade em geral são recolhidos por uma autarquia para subsidiar a produção nacional de filmes. Em 2003, em plena crise econômica, o país produziu 50 longas-metragens, o dobro da média registrada entre 1980 e 1990.
Segundo dados do IBGE (2003) a atividade audiovisual no Brasil correspondia, em 2001 a uma receita operacional líquida de 11,235 bilhões de reais. O mapa da receita do audiovisual ainda revela a seguinte distribuição percentual: São Paulo, 53%; Rio, 20%; Sul 10%; Nordeste 6%.
Para estimular a produção brasileira do setor do audiovisual, “estabelecendo uma base territorial de criação/produção/difusão, uma efetiva rede inclusiva de novos protagonistas regionais”, a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (2003-2006) adota uma política permanente de fomento (editais) à produção de filmes e vídeos de todos os gêneros, a produção de jogos eletrônicos; produção de conteúdos televisivos e a política de regionalização do audiovisual, a partir da instalação de núcleos de produção digital em diversos estados brasileiros. No que se refere à distribuição, acrescente-se os projetos de ação política externa, tendo o Brasil numa situação de protagonista, voltadas a ampliação dos laços comerciais e culturais no Mercosul e Ibero-América. E, nos últimos dois anos, a proposta de regulamentação do setor, a Ancinav, que sistematizou a elaboração de uma Lei Geral das Comunicações e ampliação da Agência Nacional de Cinema - Ancine para um organismo abrangente, que inclui todo o espectro audiovisual em suas atribuições de fomento, fiscalização e regulação.
No Estado do Ceará, entre os anos de 1993 a 1998, foi dado inicio um projeto de políticas públicas para o desenvolvimento do setor audiovisual no estado, através da Secretaria de Cultura e Desporto (SECULT). Uma política cultural pensada a partir de um programa que incluía informação/formação, criação/produção e difusão. O Ceará se posicionava nessa área estratégica e criava as bases de desenvolvimento de uma indústria audiovisual regional/local. Assim foram criados: uma escola de artes - o Instituto Dragão do Mar de Artes e Indústria Audiovisual, a lei de renúncia fiscal para financiamento de projetos culturais (Lei Jereissati); o Bureau de Cinema e Vídeo do Ceará para a articulação das produções audiovisuais locais no âmbito nacional e internacional; a política de editais; além de ações complementares como o apoio aos festivais e cineclubes. Um desafio iniciar um programa de ação de interferência cultural inédita, pois sua concepção, ao mesmo tempo em que rompia a lógica clientelista das políticas culturais do estado, propunha-se um programa de inclusão que visava qualificar qualquer cidadão interessado em desenvolver alguma habilidade no setor do audiovisual, em todo o estado do Ceará.
Os anos seguintes foram um marco na política audiovisual do Ceará, pelo que destruíram. De 1999 a 2006 os gestores da Secretaria de Cultura do Estado passam a considerar a atividade audiovisual como em fase de extinção. Poderia ter se superado as fragilidades da política anterior, ampliado e analisado, através de estudos sobre os resultados obtidos, saber das mudanças ocorridas no setor audiovisual, entre outras ações. A opção, no entanto, foi pelo desmantelamento de sua estrutura, fechando o Bureau de Cinema e Vídeo e a escola, o Instituto Dragão do Mar.
Hoje a política de audiovisual resume-se aos editais de cinema e vídeo promovidos pela SECULT, como política compensatória, uma forma de se acalentar realizadores e seus projetos adormecidos e a tentativa de re-estruturar o Bureau de Cinema e Vídeo.
A Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza (FUNCET) (2006-2009) - ainda devedora de um Plano Cultural para a cidade – rabisca sua política de audiovisual, em sintonia com os programas da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, reproduz modelos existentes - política de editais, criação de núcleo de produção digital e reedita uma escola de audiovisual nos moldes do Instituto Dragão do Mar. Acena para a criação de uma TV popular, importante ação hoje, quando vivemos um processo de discussão sobre a regulação nas telecomunicações e seus conteúdos. Mesmo com a posição difícil na concorrência com a televisão comercial, pode-se efetivamente construir alternativas de programação mais adequadas às necessidades de desenvolvimento local, independente, experimental, diversificada, mais próxima do mundo da vida das populações locais, mais adaptados às culturas populares etc.
Observando as orientações das políticas públicas do Ceará, nota-se que faz falta ainda um enfrentamento direto dessa interface da cultura com o mercado (talvez começar com uma cartografia socioeconômica desse universo – o que se sabe, por exemplo, sobre a indústria do forró ou do mercado da música instrumental?) pois, se é certo dizer que os bens e serviços culturais constroem e transmitem valores, produzem e reproduzem identidades culturais, também são fatores livres de produção e fruição nessa nova ordem mundial.

oooooOOOOOooooo

sábado, 21 de outubro de 2006

Zapping


sexta-feira, 23:00h. tenho que estar no aeroporto meia noite. faço a lista do fim de semana. sábado: ir na feira de artes do colégio das meninas. Ursula acha um tédio. Marina quer ir ver o 14 bis de papelão; show do Central no pólo de lazer da Barra. combinei com a produção.13:00h. acho que não vou encarar. melhor ver depois de editado, na televisão; levar o carro prá revisão de 10mil km. saco. carro & oficina definitivamente tarefa pro sexo forte; ... abro a geladeira sem motivo. volto. ainda faço planos. domingo: praia e cinema com as meninas; ver as notícias do mundo; reler um texto prá disciplina Teoria da imagem; dormir cedo. odeio segundas... ligo pra checar se o avião chegará na hora prevista. atrasou. só às 02:45 horas. fazer o quê? ponho o despertador 02:30h. em dez minutos chego no Pinto Martins. saio do Pc e ligo a televisão no sleep... zapping. de cara, uma receita de spaguetti com camarões e lulas. deu fome. vou na cozinha. decepção total, depois das imagens suculentas do spaguetti. volto à tv. Coragem, o cão covarde. desenho animado de um triste e velho cão em situações bizarras. passo. agora um documentário sobre mães, pais e filhos. conciliações entre o mundo adulto X infantil. passo, desse conflito meu depoimento já basta. o jornalista diz que a Coréia do Norte, aconselhada pela China, não vai fazer o anunciado segundo teste nuclear. êba! o mundo não vai ser detonado hoje... nem amanhã pelo visto. desligo a tv. viro prá um lado, outro, não consigo dormir. então volto, de canal em canal, editando imagens... paro num filme com Antonio Bandeiras que se passa. canastrão. sem chance. melhor rever 21 gramas, tá pela metade do filme. soco no fígado. já sofri uma vez com essa película. desisto. volto ao noticiário. Cnn em español. "prensa rosa", bom. novidade da vida de folhetim da pop star Madonna. ela quer adotar uma criança africana e gera polêmica. adotaria também um, ou dois. passo. Jack Johnson na Mtv agrada meu lado pop, zen-surfista. vejo o clip até o fim; vou pro Pc, escrever esse diário. agora são 1:45 e releio essas obviedades. melhor ir logo pro aeroporto. um café e depois folhear livros e revistas na La Selva, isso cai bem.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Wittgenstein e Freud



sexta-feira. dia de usar branco. cinema à vista. vou ver Wittgenstein na tela grande. Já li que o filme sobre o autor de Tractatus Lógico-Philosophicus é fake. aborda mais o despertar da homossexualidade do pensador que sua não vã filosofia. a ver. ademais, tenho encontro marcado na agenda das sextas, o divã. alguém, do alto de sua sabedoria, cuida de meu juízo. nobríssima ocupação a dos analistas. não podia buscar outra orientação senão num filiado às teses de Freud. o pai da psicanálise buscou explicar a vida pessoal e individual, mas também pública e social dos homens recorrendo às tendências sexuais, a libido. e entender também as grandes manifestações da psique como resultados do conflito entre as tendências sexuais ou libido e as fórmulas morais e limitações sociais impostas ao indivíduo. conflitos que produzem sonhos, as expressões deformadas ou simbólicas de desejos reprimidos, os atos falhos ou lapsos, distrações falsamente atribuídas ao acaso, mas que remetem ou desvendam aqueles mesmos desejos. diz Freud, ainda, que a transferência da libido para outros objetos de natureza não sexual, a sublimação, gera fenômenos como a arte ou a religião. Ok, Freud, você sempre vence. busco mesmo saber qual minha propensão nesses territórios. acho que vai demorar minha alta. pois entre outras coisas que desconheço inteiramente, é certo que transito em níveis elevados de distração compulsiva.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Decifrando rituais



Barra do Ceará, sol brabo, domingo de praia. chegamos ao pólo de lazer. o cenário lembra uma comemoração. ônibus e topics param e vemos descer pessoas em grupos, caravanas. combinação de praia e cachaça. bares e restaurantes à beira-mar, música alta, apinhados de gente exalando cheiro de sol e bronzeador. o peixe frito espirra óleo. algumas moças espalham uma pasta branca sobre a pele, o banho de sol sobre o banho de lua, funciona como um acelerador solar. pessoas mergulham na água, crianças brincam, sujas de água e areia, a milanesa, pequenas embarcações transitam com passageiros. depois de uma hora de flânerie numa mesa debaixo de um pé de castanhola, duas águas de côco, e alguns churrascos de carne de terceira, seguimos o percurso. uma duna invade o asfalto. do alto da duna explorada, a paisagem: mais longe, a praia das Goibeiras, o olhar alcança as águas sob a arquitetura da ponte que separa Fortaleza de Icaraí, esse o espetáculo do encontro do rio Ceará com o Atlântico, e do encontro dos banhistas, em hora de lazer. voltamos à pista da avenida principal. agora, de costas para o mar, desvendamos os lugares de moradia do povo dali, casas, barracos. uma partida de futebol dos meninos na rua foi interrompida para o carro passar. seguimos um beco e logo de volta à avenida, clicamos as fachadas dos motéis baratos da barra. entre vários, motel luki, motel 3 ♥♥♥, the best motel, ka samba motel, dunas motel – o prazer pertinho do mar, seu slogan. o preço, afixado no muro: pernoite R$ 15,00, permanência R$ 6,00. outro ingrediente move aquela gente, e de resto, o resto da humanidade, o sexo. Ah... o domingo feito de praia, cachaça e sexo, o código do povo alegre dessa orelha do mundo, aonde proliferam os ritos sensuais e a espécie humana.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Estado de praia


18/10, quarta-feira, dia útil, acordo em estado de praia. apago o chek list da memória, pego protetor solar e toalha e penso na bomba de urânio da Coréia do Norte, antes do mundo explodir, preciso escutar summertime com Miles Davis e Gil Evans. play e sigo a pista que vai dar na praia do futuro. acelero, permito, enquanto toca a música boa mesmo. encosto o carro e o personal vigilante me aborda, cuida aí vai. enfim o mar... depois de moroso banho, trucido alguns caranguejos em companhia de uma gelada enquanto observo o ambiente: credo, aqui parece Ibiza, cheia de italianos e espanhóis; a diferença é que tem moças morenas, cafuzas, por todo lado, acompanhadas dos branquelos. tem um do meu lado com cara de demente, dever pintar paredes na Itália, o outro lá parece um motoboy assassino. ando muito suja mesmo, e penso que esse turismo sexual seja talvez uma boa para a mescla de raças... talvez melhor que contemplar o triste olhar de crianças mestiças captadas por fotógrafos sensíveis a miséria. então tá, o turismo sexual também vai ajudar a redistribuição de renda. desemprego pros fotógrafos e pras causas sociais politicamente corretas. bobagens gravitam a mente... melhor voltar ao mar. a temperatura me faz lembrar que evitava a água do mediterrâneo, bastava contemplar o azul profundo do mar, que enche a vista e acalma o espírito... mergulho no verde mar atlântico, e em meus pensamentos mornos e desordenados...

terça-feira, 17 de outubro de 2006