domingo, 7 de dezembro de 2008

narrativa ordinária



enquanto faço planos para um céu azul um convite à praia cedo você escuta e cantarola uma música triste também faço planos pra outros dias longos dias de outono com o por de sol às nove da noite em outro hemisfério dar voltas no quarteirão a pé parar numa banca de revistas na floricultura comprar tulipas amarelas as mais belas é certo oportuno agora é ouvir outra música ou outra voz cantarolar tomar um chá de melissa olhar paisagens desconhecidas através de janelas verdes inverter a ordem das coisas e nada será mais como antes sentir frio na barriga e inquietude antes de partir que raro que sejas tu quem me acompanha soledad a mim que nunca soube bem como estar só o refrão da música se repete na memória enquanto escrevo este plano em linha reta a espera do sono antes que testemunhe mais uma de tuas mil e uma noites mal dormidas em leituras atentas silencioso em companhia de cúmplices fiéis latidos de cachorros portas rangendo chuva no telhado freio de ônibus vozes anônimas risos incontidos e inesperados café cozinhando pássaros cantando e logo o amanhecer vem anunciar o vazio sobre a cabeça e teus pés atravessando o dia como estranho mesmo comprando na farmácia um elixir para dar um certo brilho no olho encarar a rotina ordinária com as pupilas dilatadas de sono e confortar a alma imaginando como tchecov que a vida ainda será surpreendentemente bela.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei e vou voltar concerteza. Parabéns.

Lia disse...

A vida ainda será surpreendente bela...Não é por isso que continuamos?
Lindo o texto, grande é o escritor que consegue passar ao leitor o mesmo sentimento.Não o entendimento, mas o sentimento! Sem vírgulas, sem meio , só começo e um provável recomeço. Sem fim. A la o grande Saramago.
Ouvi por aqui também os fíeis latidos dos cachorros...Grandes amigos!

Beijo - vou voltar, okay?

Alexandre Grecco disse...

É sim parece que a vida é surpreendentemente bela mas precisa de certas doses de elixir esses que vendem nas farmácias vinte e quatro horas casas especializadas em inquietos e sonâmbulos cúmplices irresponsáveis mas que sempre estão por aí ou melhor por aqui.