terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Schopenhauer num dia de calor

hoje acordei inteira, meio gauche, meio droit. nesses dias, de ar rarefeito, volto à Schopenhauer, num ensaio sobre a dor. a vida de cada homem - e como exige a dedução, a minha inclusive - carrega em seu aspecto mais minucioso, a face de comédia. mas que também, naquilo que é aparente, a vida do homem é uma contemplação trágica. E sigo o filósofo, sem tirar nem por: “o trabalho, os desejos, os medos cotidianos, as desgraças de cada hora, os acasos da sorte sempre disposta a nos enganar são outras tantas cenas da comédia”. conectados, o escárnio e o desespero não nos permitem conservar a dignidade de uma personagem trágica, por isso, como sobreviventes, representamos o papel de cômicos, esse o intento de cada ato, dia pós dia. depois, o nocaute do poeta, “os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito...” e assim, vejo minha breve vida, um capítulo menor, é verdade, dessa tragicomédia ordinária coletiva, mas como exige a lógica, aí também enceno meu papel. o filósofo não é mesmo complacente, ah isso não: “as aspirações iludidas, as ilusões desfeitas, os erros que completam nossa vida, as dores que se acumulam até terminar na morte, o último ato, eis a tragédia.” a morte, a imunidade de nossa compaixão. hoje acordei inteira, meio trágica, meio cômica, num dia de escasso sabor.

3 comentários:

Leonardo Sá disse...

acordar inteira na luta da reciclagem, é o que há! somos casqueiradores de nós mesmos! quantos quilômetros percorremos a casqueirar?

Anônimo disse...

Compartilho do mesmo sentimento

abraços e beijos

maria. disse...

adoro Schopenhauer.